segunda-feira, 30 de julho de 2007

Angelique du Coudray (Parte 1-C)


A Boneca de Porcelana

Caem das mãos com a singeleza do branco. Como se fossem cacos de porcelana e não palavras à espera de serem coladas. Quando alguma se perde no tempo, dá logo a mão ao brinquedo mais próximo e sussurra: "Não tenhas medo, juntos seremos para sempre crianças".



Acordei à tarde não sei ao certo que horas eram. Minha cabeça estava doendo, não vestia mais meu vestido, estava com uma camisola de seda branco fusca. O quarto era pequeno e estreito, a cama era comprida e dura, tinha uma grande colcha azul turquesa.
Quem era ele? Por que ele me raptara? O que aconteceu? Ah, como minha cabeça doía, eu estava deitada ainda na cama com os olhos abertos, que também doíam, será que ele drogou? Não, não pode ser possível, ele não me deu nada para beber. Isso me incomodará muito.
De repente duas meninas, loiras, olhos azuis, com rosto de criança entraram no quarto, estavam caladas, e olhavam para mim, uma com desprezo, e outra com doçura, a que me olhava com amargura veio a mim e disse que precisava tomar banho, e ela o iria me dar, senti um medo, mais me deixei levar. Enquanto a outra menina, começou a arrumar a cama.
Fomos por longo corredor, suas paredes eram cobertas por armas de guerra medievais, espadas, facões, Raphaël era obcecado por guerras, só podia ser isso. Não entendia por que.

- Nunca vi o Senhor trazer ninguém aqui – falou ela amargamente.
- Creio eu ser a primeira então.- Respondi.
- Foi isso que disse, caso não tenha entendido.


Parei, e a encarei, e sem pensar, virei um tapa em sua face, que fico vermelha de imediato. Como era ousada essa menina, podia ser linda, mais não tinha esse direito.
Então ficamos ambas em silêncio, ela entendeu que ali eu era superior a ela.
Seguimos ate o final do corredor, que levava a uma porta escura e grande de carvalho. Sem duvida, era monstruoso o tamanho daquela porta, não apenas daquela, mais sim de todas da casa. Entramos por ela, em um banheiro, era imensamente grande, havia venezianas abertas, estava fresco lá dentro, no meio desse banheiro, uma banheira, com varias pétalas de rosas vermelhas sobre as águas, lá dentro estava cheirando a mel, rosas... É claro e menta. Uma mistura interessante, mas muito agradável.
A menina amarga, que mais tarde descobri que se chamava Monique, tirou minhas roupas bruscamente e mandou-me entrar na banheira, foi o que fiz, a água estava quente, fervente para ser mais exata, ela me acariciou cuidadosamente, apesar de seu comportamento passado, e despejou mel em mim, continuou a me esfregar com ele, minha pele, ficou muito sedosa, e cheirosa, a água aromatizada deixou uma combinação de aromas que não havia visto, ou cheirado, era melhor que qualquer perfume. Depois de uma meia hora, sai da banheira, e me deparei com uma janela, estava escuro já, Monique saiu imediatamente do bainheiro, e me deixou lá, sozinha, pelo menos era o que eu havia pensado. Sentei-me no divã que havia lá, e comecei a me secar, então virei minha cabeça delicadamente para ver minhas costas, e me deparei com Raphaël. Dei um salto de medo, e ele logo disse rindo:

- Se acalme, honig..
- Calma??
- disse eu histérica -.
Pervertido, eu estou nua, sai já daqui!
- Mas porquê? Você fica tão bem nua.


Eu apenas me levantei, olhei para ele, e dei um tapa em sua face. Minha mão estava começando a doer com tantos tapas. Ele não fez nada, só soltou uma gargalhada imensa em minha direção.
Não pareceu sentir dor, e nem ficara irritado. Ele de deu passou a frente, e apertou meu ombro. Ele estava me machucando, doía, doía muito. Sem que perceber se ele saltou para frente, e segurou meus braços, agarrou meu pescoço, com a sua língua gelada, lambeu-o delicadamente, e então, fincou suas pressas nele, e foi o suficiente para que eu ficasse desacordada. Só sei que naquele momento eu apaguei. Eu acordei no dia seguinte com muita dor de cabeça. Estava no mesmo quarto no qual eu havia acordado no dia passado, as janelas estavam abertas, estava muito calor, não consegui ficar de baixo da colcha, levantei-me e fui direto ao espelho que tinha no frente da cama, tirei meu cabelo da frente do pescoço e prendi-o, olhei bem para onde o Raphaël havia fincado suas presas, estava sem marca alguma, ele era um bebedor de sangue? Bem, era o que parecia. Um vampiro... Mas, eles não existem.... O que ele queria comigo? Uma presa? Uma boneca? Era uma desventura: viver para sempre.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Angelique du Coudray ( Parte 2-B)

Angelique era uma menina linda, sem dúvidas. Mas era extremamente arrogante e negligente. Uma coisa que nunca evoluiu desde aqueles tempos é esta: “Todo jovem acha que a sua vida é o primeiro capítulo da existência da humanidade”. Angelique acreditava fielmente nisso, que nada no mundo tinha importância e apenas ela poderia mudá-lo. Era muito convencida de si mesmo, mas, tinha certeza que poderia mudá-la. Angelique era linda e inteligente o suficiente para entender a lição que eu queria dar-lhe. Ela estava eufórica e com medo de mim, era de se esperar. Não sou tão normal quanto os seres que a rodeavam. Bem, sou um bebedor de sangue. Vivo da vida dos que ela ama: os mortais. O que ela queria? Ela sentia medo de mim, podia farejar isso. Podia farejar seu sangue, seu perfume...
Angelique era diferente de Demétria e Wone, completamente. Não sabia quase nada sobre a vida, e tinha medo de conhecê-la.
Olhava para ela sem medo, normalmente todos baixavam as cabeças para ela. E ela estava errada se achava que isso iria acontecer novamente, não era como aqueles que não conseguiam ler seus olhos ou seus pensamentos.
Exigiria obediência dela, respeito. Seria seu Senhor realmente. Queria uma cria, uma das minhas maiores frustrações agora olhando, é que nunca pude ter um filho. Acredito que isso é uma dor para todo homem, não ter filhos. Poderia ter me casado com Wone, e teríamos lindas crianças loiras que correriam pelas ruas.
Pensando agora, o que teria acontecido com ela naquela época? Ainda era uma freira pervertida? Não faço idéia, nunca voltei a me lembrar dela. Estava entretido demais com Angelique para se quer me lembrar dela. Talvez ela tivesse morrido naquele ataque russo, quem sabe, não seria seu sonho? Morrer em pleno gozo.
Sei que minhas palavras parecem de rancor, e são... Wone foi uma ferida difícil de cicatrizar, seu medo de ficar comigo. Bem, agora mostra como ambas as nossas vidas foram desgraçadas. Ela de qualquer modo está morta agora, e eu... Eu também.
Angelique parecia mais fragilizada a cada palavra que pronunciávamos naquela impecável biblioteca. Tinha começado a ter medo do que eu podia fazer com ela, era um fato.
Lá fora a noite começara a trovoar, e caiam gotas bem pesadas pelo telhado da casa. Seria um final de noite interessante, quem sabe.
Quando pronunciei minha última frase a ela, fiz que apagasse.
Levei para os aposentos onde ficaria até que eu voltasse na noite seguinte, estava quase amanhecendo. E se não fosse embora agora, não iria mais. E simplesmente não queira passar o dia pela casa adormecido.
Então, a deixei naquele quarto escuro e vazio.
Antes de sair, dei ordens para que quando acordasse se lavasse, comesse e esperasse até que eu chegar. Podia conhecer a casa e seus jardins. Mas não poderia deixá-la de modo algum. Estava certificado disso, aquela casa poderia ser uma fortaleza caso quisesse. Então, dormi em um cemitério, qual ficava perto de minha casa.

Angelique du Coudray ( Parte 1-B)




- Não se lembra quem eu sou, não é mesmo?

A voz desse homem me soou tão estranha a partir do momento que entramos nessa biblioteca, me irritava o tom que ele falava e modo que ele agia, sempre silencioso. Ele andava de modo gracioso e parecia levitar a cada passo, seu sorriso era sempre malicioso, ele parecia ser tão... Vazio e ao mesmo tempo cheio de mistérios.

- Angelique? Lembra-se de mim?
- Não, acho que nem deveria. Minha memória é boa, Ra...Raphaël.
- Me chame de Senhor, Angelique. Sou bem mais velho que você.
- Não aparece tão mais velho, senhor
– minha voz soou com um tom de sarcasmo.

Ele me encarou, então, sorrio novamente. Observava cada movimento seu, era rápido demais todos. A biblioteca onde estávamos tinha as paredes todas lotadas de prateleiras com coleções de livros e objetos de que ao meu ver pareciam de alto valor. Pelo chão, vários tapetes persas e sobre eles cadeiras no estilo Luís XIV. Então, caminhei até uma e me sentei naquele estofado deliciosamente macio.

- Angelique – ele abafou uma risada e arqueio a sobrancelha. –,
não se lembra mesmo de mim?

Olhei para ele, estava começando a ficar irritada, por que diabos ele não entendia que eu não me lembrava dele?

- Não, Raphaël.

Quando pronunciei seu nome, sinto uma mão no meu pescoço apertando-o com pressão, quase não conseguia respirar.

-
Senhor, Angelique. Quando querem aprender da maneira mais difícil comigo, sempre sofrem.

Como ele conseguiu ficar atrás de mim com tanta rapidez, há segundos ele estava na minha frente apoiado nas prateleiras, como?

- Si...Si...Sim... – eu garfei seus dedos com minhas unhas até que sangrassem para que largasse do meu pescoço, mas ele apenas ria. – Senhor...

Ela me largou e deu uma sonora gargalhada metálica, ele me dava medo. Fiquei a olhar assustada para suas mãos enquanto o sangramento parou de expelir sangue.

-
Que tipo de monstro é você? O que quer comigo? Porque deveria me lembrar de você?
- Sim, sou um monstro... Mas, ao mesmo tempo, sou seu anjo, Angelique, não queria sair daquela casa? Então, sou seu anjo da morte, por assim dizer
– ele rio. -.
Vou responder sua última pergunta. Você pediu para se casar comigo quando era mais nova, não se lembra? Tinha apenas oito anos de idade, era uma menina linda.

Ele pareceu refletir sobre isso, estava me dando medo... Porque eu não me lembrava? Porque?

- Então, eu voltei para transformá-la em minha dama.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Angelique du Coudray (parte 2)

Agora, retrato a visão do Raphaël da situação. Será assim esse capitulo, primeiro Angelique, depois Raphaël.

Quando finalmente deixei Berlim, rumei para Paris. A França apesar de destruída, estava alegre comemorando a vitória. A cidade em si não fora destruída como o resto do país, hoje em dia alguns historiadores chamam isso de uma vaidade de Hitler, e talvez fosse mesmo. Não importava, lá seria meu novo lar.
Gostaria que entendessem uma coisa, não nutro raiva por franceses ou por russos muito menos americanos – apesar de não gostar muito do tipo arrogantes -, não vejo diferenças entre povos ou nações, e caso visse seria que nem os nazistas, não seria? O que os americanos fazem hoje impondo sua superioridade? É engraçado pensar isso, eles fazem o mesmo de forma indireta, acho ridículo eles recriminarem Hitler e os alemães por terem tido coragem de defender o que acreditavam, ao contrário deles que ficam por baixo dos panos. Eles usaram cidades como cobaia para bombas, isso é saudável? Não estou falando que estávamos certo, porque realmente eu não acredito nisso. Nada vale uma vida. Mas também me irrita o que esse país de merda fez, e como golpe acabou fazendo Jerusalém. Bem, não estou aqui para discutir história de guerra, ou criticar o Tio Sam. Como ia dizendo, uma nacionalidade, cidadania não faz o homem. Ele trilha seu caminho por si mesmo. Tenho raiva dos soldados daquele batalhão que matou minha família, isso sim. Mas como ter ódio de uma criança que nem estava viva quando todo aquele martírio aconteceu? Ou um homem que viveu há 200 anos atrás? Não tem lógica, não é?
Quando me destinei a ir para Paris, não tinha noção do que esperar, estava desiludido com o mundo dos homens. Comprei uma grande propriedade no centro da cidade, os vampiros têm um poder de persuasão incrível, consegui comprar essa mansão em pleno centro por quase nada. Devo confessar que usei muitas e muitas vezes esse dom que ganhei.
A minha vida nas primeiras noites foram bem agitadas, de fato. Em pouco tempo fazia parte da sociedade, e ninguém me odiava por ser alemão, o que era um bom começo. Mas não gosto de mentiras, mas naqueles tempos era necessário. Meu pai havia me enviado para estudar em lugar bem distante, e quando voltei minha família havia sido morta, e essa era a minha história. Ninguém podia condenar um estudante, podia?
Então, quando uma família bem influente na cidade acabou por me convidar para uma festa, e eu aceitei.
A festa tinha todos do socialite... Empresários novos, velhos. Grandes famílias, nobres. As mocinhas que andavam para cá e para lá me rodeado, observavam meus gestos, meu corpo, meu rosto. O que realmente estava começando a me irritar... Nunca gostei de muitas pessoas encima de mim. Eram realmente meninas lindas, até que me sentei para conversar com uma...
Conversamos sobre banalidades, e de como ela esperava se casar e ter filhos um dia. Era uma menina bem novinha, devia ter oito anos, acho. Era loira e tinha um sorriso encantador, as mãos eram pequeninhas e tentaram segurar as minhas. Ela me olhou com aqueles olhos imensos e pediu que quando ela crescesse para que eu me casasse com ela. Sorri, e disse que quando ela crescesse, eu voltaria. Bem, e eu não estava mentido.
Uns anos mais para frente, acabei reencontrando-a em uma festa, estava sozinha na frente da fonte do salão, remoendo dentro de si como era diferente de suas irmãs e como se sentia mal por isso, apesar de não admitir. Era orgulhosa demais para isso. Nem percebeu minha aproximação, estava tão presa em seus sentimentos sombrios que acabou ficando distraída.
- Meu nome é Raphaël, reparei em você sozinha aqui. Você está bem, honig?
Talvez ela fosse me fuzilar a qualquer momento, era muito amargurada. Ela tinha uma mente muito aberta, era fácil de ler.
- Você acha mesmo meu olhar sedutor? Sua face demonstrava medo e logo voltou a ficar séria.- Como sabe que acho seu olhar sedutor?-
Eu? Eu leio pensamentos minha querida – Apenas sorria para ela – Estou brincando, a maioria das pessoas acham isso, apenas concluí que você também pensasse assim.
- Me ofendi ouvir que o senhor me acha como a maioria das pessoas, mas se o senhor me acha como a “maioria das pessoas” vá conversa com as pessoas lá dentro, as quais vivem de aparência, talvez não tenho cérebro o suficiente para perceber a profundidade de suas palavras, meu caro. Deixei-me em paz com meus temores e meus pensamentos melancólicos.
Ela era muito... Estou tentando procurar a palavra certa ainda, rabugenta. Era uma pessoa difícil para conversar, e de fato, ninguém gostava de chegar perto dela.
- Desculpe se a ofendi, honig, não era minha intenção – esperei alguns segundos -, mais por que tem temores e pensamentos melancólicos?
- Isso não vêem ao caso, creio eu, que o senhor não está aqui para isso, não é? O que deseja?
- A festa está relativamente cansativa – um sorriso travesso surgiu em minha face -; estava atrás de uma companhia mais interessante, além de tudo aquelas mulheres vulgares estavam me irritando – apontei para cinco mulheres que estavam na porta nos fitando com curiosidade – A senhorita as conhece?
E é claro que conhecia, e também as odiava.
- Infelizmente – respondeu -, são minhas primas e minhas irmãs.
- Desculpe, não quis ofender - lhe.
- Não ofendeu, também não as suporto. Tenho asco por cada uma. Quando estou com elas, é como se me sentisse sozinha, ninguém está lá, são apenas corpos.
- É claro. – concordei não querendo persistir nesse assunto.
Agora ela divagava, e pensava sobre a família dela. De como se sentia superior a todas aquelas meninas na porta.
- O que lhe disseram? ‘Que o senhor é belo, e tem um belo porte?’
- Isso, e perguntaram de que família eu vinha, mais acho que isso não vem ao caso.... Importa-se se eu as provocar?
Ela não entendeu do que eu falava, até que poucos segundos depois eu a beijei como ela nunca havia sonhado. Ela não se lembrava de quem eu era, e qual fora o seu pedido há 6 anos atrás, mas logo a faria se lembrar.
Então decidi sair daquela festa, estava me deixando constrangido tantas pessoas me olharem, nunca gostei desse assédio todo. Rumamos para minha casa, ela ficara encantada com tudo nela. Era de se esperar, a casa era magnífica mesmo...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Angelique du Coudray ( Parte 1)

A história do Raphaël surgiu desse texto, foi a primeira visão que tive da história, há quase três anos.
Essa é a primeira parte que irei postar correspondente a Angelique. A próxima que será continuação, será a visão do Raphaël de como tudo isso apontado no texto aconteceu.




A festa continuava do lado de dentro – na qual não fiquei nem cinco minutos -. O jardim onde estava , havia vigas de bronze fundido, com cerca de quatro metros de altura, elas seguravam toras fundidas de bronze também. Pelas vigas cresciam varias primaveras nas tonalidades rosa e vermelha, mas uma delas era diferente, ela ficava bem na viga central, ela crescia contornando-a, formando um caracol, ela era grossa, e larga, sua folhagem era em um tom de verde musgo, uma cor bem apagada, mais o que mais chamava atenção nela, não era seu esplendoroso tamanho, e sim suas flores, era brancas perola, quase transparente, a na luz do luar pareciam cintilantes. O chão daquele local era de mármore preto. E envolta daquele local com piso, era cercado com grades de bronze trabalhado, todos em arcos góticos. As venezianas iam do chão, ao teto, no estilo francês, mais isso era obvio, pois aquele prédio era do começo dos tempos de Revolução Francesa, só tinha passado por um restaura mento e uma reforma, seus vidros eram todos talhados com arcos góticos também, aonde se encontrava os detalhes era mais fusco do que o resto. Envolta tinha grandes arvores verdes, a Primavera era muito generosa naquele ambiente. Entre as arvores, havia uma fonte redonda, na qual o chafariz sai do centro da bacia, a água jorrava rapidamente para cima, e caia suavemente no restante da baixa bacia, nela havia carpas douradas e alaranjadas, um tom meio que metálico, que de longe via os reflexos delas nas pedras através da água. Eram gordas e bem alimentadas. No meio do piso, havia um grande e confortável sofá e uma poltrona grande também, de bronze trabalhado (combinando com o resto do ambiente). Suas almofadas feitas sobre medida, eram pretas com finas e delicadas listras brancas cintilantes. Entre o sofá e a poltrona, que estavam em posição de L, havia grandes vasos com plantas e magníficas folhas verdes esmeralda, eram grandes e largas.
Aquele jardim coberto era muito bonito. Se sentasse naquele sofá, poderia ver claramente a lua, mais não era bem o caso desta noite em questão, pois o céu estava acinzentado, as nuvens eram grandes, tampavam todas as estrelas, apesar da lua, continuar com seu majestoso brilho. As nuvens podiam ser densas, mais elas não conseguiram tampa-la.
Estava de pé do lado da fonte, olhando para as carpas, estavam assustadas comigo, nadavam para longe do meu olhar, tinham medo de mim. Um vento frio era constante sempre levantando meu vestido, pois ele era marcado nos seios, e solto ao resto do corpo, era em um tom de vinho, puxado para tom de sangue. Ele deixara meus ombros e minhas costas nuas.Seu corte era muito bem feito, era de seda chinesa. Meus pés estavam congelando minha sandália preta era muito aperta, e seu salto me cansara.
De repente uma mão pousou em meu ombro, creio que fiquei parada durante cinco minutos, sem nenhuma reação, longo, puis minha mão sobre a que estava em meu ombro, e me virei gentilmente, apesar de uma onda de medo me percorrerá o corpo com o feito. Sua face era branca como o mais puro mármore, as maças em seu rosto era retas, quase sem movimento, sua testa estava palpitando, o que mais me assustava era seus olhos azuis e profundos, o arco de sua boca era redondo, muito bem feito. Seu cabelo era loiro e liso, estava penteado para trás. Seu rosto era angelical.
Sua roupa era simples, era uma calça social, e uma blusa de seda branca, desabotoada ate o terceiro botão, por cima um colete com belos cortes, de cor preta.
Ele abriu os lábios com delicadeza, e logo disse:

- Meu nome é Raphaël, reparei em você sozinha aqui – seus olhos me olhavam de uma forma sedutora, a qual me enlouquecia -, Você está bem, honig?

Meu olhar era de indiferença, o qual era normal, mais ele continuava com aquele olhar sedutor, deste aquele no inicio. E logo recomeçou a falar.

- Você acha mesmo meu olhar sedutor?

Como podia ser, ele adivinhar meus pensamentos!

-
Como sabe que acho seu olhar sedutor?
- Eu? Eu leio pensamentos minha querida
– sua face era nítida, estava com sorriso ingênuo, como de uma criança –
Estou brincando, a maioria das pessoas acham isso, apenas concluí que você também pensasse assim.
- Me ofendi ouvir que o senhor me acha como a maioria das pessoas
– Seu sorriso desapareceu, como se estivesse com repensando no que dizia, e recomecei -, mas se o senhor me acha como a “maioria das pessoas” vá conversa com as pessoas lá dentro, as quais vivem de aparência, talvez não tenho cérebro o suficiente para perceber a profundidade de suas palavras, meu caro – dei uma pausa, e retornei a falar -. Deixei-me em paz com meus temores e meus pensamentos melancólicos.

Ele me fitou por alguns minutos, sua face inexpressiva. Disse devagar, com um sorriso zombeirão, em um tom alegre:
- Desculpe se a ofendi, honig, não era minha intenção – esperou alguns segundos -,
mais por que tem temores e pensamentos melancólicos?
- Isso não vêem ao caso, creio eu, que o senhor não está aqui para isso, não é?
– disse eu com um tom de indiferença -
O que deseja?
- A festa está relativamente cansativa –
um sorriso travesso surgiu em sua face -; estava atrás de uma companhia mais interessante, além de tudo aquelas mulheres vulgares estavam me irritando – apontou para cinco mulheres que estavam na porta nos fitando com curiosidade –
A senhorita as conhece?
- Infelizmente – respondi -,
são minha primas e minhas irmãs.
- Desculpe
– sua face corou, delicadamente; não ficou vermelho, apenas um tom de rosa perolado -,
não quis ofender - lhe.
-
Não ofendeu, também não as suporto. Tenho asco por cada uma. Quando estou com elas, é como se me sentisse sozinha, ninguém está lá, são apenas corpos.
- É claro.
– concordou ele.

Todas elas eram morenas, cabelos lisos nas raízes, e encaracolados nas pontas, tinham profundos olhos azuis, eram bonitas, seus rostos eram redondos, seus corpos eram altos, e magros, seus seios eram fartos, e tinham curvas bem definidas. Enquanto eu, era baixa perto delas, meu cabelo era encaracolados das raízes a ponta, que batia no meio das costas, e era loiro, meu olho era uma outra variação do azul, ele era puxado para o violenta, e às vezes para o cinza, tinha seios fartos também, e curvas bem definidas, era quase igual a elas, a única coisa fisicamente que nos diferia era meus cabelos com cachos loiros pequenos e bem feitos, e meus olhos, que todos achavam os mais belos; mais é claro que nenhuma delas aceitava isso. Graças a Deus, nossas cabeças eram totalmente diferentes, elas eram fúteis e burras (desculpem a palavras, mas é a melhor para defini-las), viviam atrás de um homem com porte, belo, rico para se casar. Reprimiam-me por que eu estudava, passava horas com a cara nos livros, estudava de noite e de dia. Costumavam dizer que eu nunca casaria desse jeito, que burra era eu, que não ia atrás de homens para casar, para ter uma vida boa, ter filhos. Quando diziam isso, costumava rir delas, isso as enfurecia, não me importava. Era a mais nova da família, tinha apenas catorze anos, elas todas já estavam com dezenove e vinte anos,e se achavam velhas, e com rugas. Em noites que meus livros não me satisfaziam costumava ouvir-las conversando por trás da porta para dar risada, isso era um bom passatempo. Mas evitava ao máximo contato com aquelas futilidades que se diziam humanas. Apenas não as suportavam.
Esperei cinco minutos, antes de recomeçar:

-
O que lhe disseram? ‘Que o senhor é belo, e tem um belo porte?’
- Isso, e perguntaram de que família eu vinha, mais acho que isso não vem ao caso.... Se importa se eu as provocar?


Não entendi as suas palavras mais antes que pudesse entendê-las, ele passou um dos braços em volta de minha cintura, e outro envolto de meu pescoço, de uma forma brutal, me juntou a ele, meus seios encostaram nele, ele era mais alto que eu, era gelado com um defunto, sem duvida nenhuma, era muito gelado, também era duro, nunca havia visto alguém assim, de alguma maneira isso me espetava, seu corpo era forte e elegante, aparentava ter vinte anos, sua face era jovem, sua testa era lisa, sem duvida era muito jovem. Seus braços eram finos e grandes.
Ele se inclinara para frente com os olhos fechados, e me beijou, primeiro apenas pousou os lábios sobre meus lábios, e logo depois, colocou sua língua delicadamente em minha boca, apesar de seus movimentos serem bruscos e vagarosamente rápidos. Ele parou quando percebeu que eu estava com medo, e sussurrou em meu ouvido, “Sem medo” , e a mordeu delicadamente, isso me fez soltar um suspiro longo e profundo. Desceu beijando meu pescoço.Voltou a beijar minha boca, lentamente, passando a língua entre meus lábios, ela era incrivelmente gelada também, ele parecia uma serpente colocando sua língua na minha boca. Suas mãos acariciavam minhas costas levemente minhas coxas, ele parará de beijar minha boca e punha-se a beijar meu pescoço, meus ombros, e logo voltara a beijar meus lábios, certa hora, ele me mordera com seu canino, isso me fizera sangrar, ele lambeu o ferimento e o pouco de sangue que restará entrava em minha boca, talvez isso lhe desse prazer, pois no momento que fez isso ele retornara a me beijar a boca com sua língua gelada. Seus beijos eram profundos, e deliciosos, eles transmitiam um fogo forte e saboroso. Isso durou por volta de quinze minutos, quando paramos de nós beijar, os dois olharmos para a veneziana aberta, e vimos, cada uma das cinco olhando para nós com uma cara de espanto. De fato, até eu fiquei espantada, tenho que admitir que fiquei muito surpresa com ele, mais sentia certo triunfo por te-lo beijado, ter estado com alguém que aquelas vagabundas não ficaram. Isso me deixa radiante.
Ele agarrou minha mão, e passamos por elas,do jardim onde estávamos.Passamos por elas correndo, quanto isso, ele apenas falava, ‘ Vamos sair daqui, ninguém me agrada, são todos mexeriqueiros, vamos dar uma volta por Paris, honig...’, eu apenas o seguia, também não suportava ficar lá, com aqueles seres. Os homens jovens só tentavam me agarrar, os velhos me olhavam com se eu fosse um suculento pedaço de carne fresca, as mulheres apenas fofocaram sobre mim, e minha mãe e minhas tias tentavam decidir um futuro para a caçula da família. Como tudo aquilo me irritavam.
Logo saímos do Salão onde a festa ocorrerá, estávamos pela rua, andas em direção ao centro da cidade.
-
Raphaël, onde estamos indo?
- Para qualquer lugar
– disse ele, com um sorriso travesso no rosto, como era belo –
Qual é o seu nome? Ainda não me disse!
- Meu nome? Meu nome é Angelique, minha avó chamava-se assim.
- Angelique, belo nome. Aonde quer ir Angelique?
- Não faço a mínima idéia, que tal irmos para o Louvre?
- Não, por quer ir ao museu?
- Não sei, você mandou eu escolher um lugar, foi o primeiro que me veio na cabeça!


Ele apenas riu, e seguiu em frente, passamos por um grande cemitério, logo estávamos na frente de uma grande casa, e ele começou a falar:
- Está é minha casa.

Ela era um grande, antes de chegar em sua porta, tinha uma grande escada, ela era de mármore cinza, era um tom bem escuro. Entre o começo dela, e o final, havia muitas arvores grandes, com cerca de metros de alturas, tampavam o céu totalmente.No topo da escada, se deparava com uma porta com dois metros e meio de altura, era de madeira, não tenho certeza se era de carvalho ou não. Em cada lado dela, tinha grandes vigas de pedra, também em tom escuros de cinza, por ela cresciam pequenas plantas, trepadeiras, presumo, casa era inteira de pedra, em um estilo medieval,tinha um aspecto de abandono, ela era muito sombria. As janelas eram também venezianas com as do salão. Por elas podíamos ver que havia velas acessas do lado de dentro. Apesar de uma grande cortina de renda preta cobri-las.
Nós entramos no hall, era muito grande e vazio, havia apenas um piano de calda preto, com pouquíssimos detalhes em prata, não havia quadros, apenas grandes arcos de pedra, casa parecia um castelo medieval, sem duvida nenhuma.
Logo atrás do piano, uma parede aberta, dando para outra sala, mais essa por sua vez, era maior, com uma mesa de jantar longa e larga. Suas cadeiras eram de veludo vermelho. A sala também era em pedra, nelas havia grandes tapetes com imagens de Botticelli.
Passamos do lado esquerdo da mesa, e entramos por outra parede aberta, em uma sala menor, havia uma mesa pequena e larga, estava virada para o resto da sala, atrás dela, uma estante que dava para o resto da sala inteira, contornava as paredes. Ela ia do chão ao teto, que era muito alta, cerca de quatro metros. Então, começamos a conversar.

domingo, 15 de julho de 2007

A Transformação. (continuação)




Whatever it is you are feeling is a perfect reflection of what is in the process of becoming.


Eu perdi a noção do tempo nos primeiros tempos da minha transformação. Precisava ver desesperadamente meus pais e minhas irmãs.
Cheguei em Berlim em pouco tempo, para ser exato em algumas noites, acho... Estava com medo caso eles percebessem o que tinha acontecido comigo. Mas o medo era mínimo comparado com a minha vontade de vê-los que me consumia.
Mas quando entrei na cidade, algo estava diferente. Ela havia sido devastada pelo exército Russo.
Passava pelas ruas, e só via destruição. De certo modo, não consegui guardar nada na memória, estava muito preocupado para saber o que aconteceria com a minha família.
Quando cheguei lá, as portas arrombadas, vidros quebrados. Temia pelo que estava por vir.

Então, quando entrei dentro de casa. Vi as duas, minhas duas pequenas jogadas no chão... Com os vestidinhos rasgados, quase em trapos... Haviam sido violentadas por soldados. O meu consolo foi que não foram apenas elas que sofreram isso, todas as mulheres da cidade haviam passado por isso, apesar de desprezível o meu pensamento, foi a isso que me apeguei.
E meus pais? Sim, foram mortos também, só que não tão brutalmente como minhas adoráveis irmãs, foram mortos a tiros. Bem, foi melhor do que serem violentados até a morte, não acha?
Bem, é algo indiscutível agora.
Troquei suas roupas com cuidado, observando cada marquinha no corpo de minhas irmãs e levei-os para fora, e os enterrei no jardim de casa. Devo confessar que me senti humilhado ao fazer isso, e o que me deixou bem acabado com o constrangimento da situação.
Depois daquela noite, ouvi dizer que Hitler havia se suicidado, mas isso não refletiu em nada em mim, não tinha importância. Como poderia deixar-me abalar com aquilo, minha mãe havia sido morta! Minhas irmãs... Então, recolhi minhas coisas, e sai de Berlim, e pretendia nunca mais voltar.


Como Deus pode justificar o sofrimento de uma criança?

domingo, 8 de julho de 2007

O Ateu é Deus.






Deus não existe (...) A salvação de todos consiste agora em provar essa ideia a toda a gente, percebes? Quem é que há-de prová-la? Eu! Não entendo como é que até agora um ateu podia saber que Deus não existe e não se suicidava logo. Reconhecer que Deus não existe e não reconhecer ao mesmo tempo que o próprio se tornou deus é um absurdo, pois de outra maneira suicidar-se-ia inevitavelmente. Se tu o reconheces, és um rei e não te matarás, mas viverás na maior glória. Mas só o primeiro a perceber isso é que deve inevitavelmente matar-se, senão o que é que principiaria e provaria?


Sou eu que me vou suicidar para iniciar e para provar. Ainda só sou deus sem querer e sofro porque tenho o DEVER de proclamar a minha própria vontade. Todos são infelizes porque todos têm medo de afirmar a sua vontade. Se o homem até hoje tem sido tão infeliz e tão pobre, é precisamente porque tem tido medo de afirmar o ponto capital da sua vontade, recorrendo a ela às escondidas como um jovem estudante.



Eu sou profundamente infeliz porque tenho medo profundamente. O medo é a maldição do homem... Mas hei-de proclamar a minha vontade, tenho o dever de crer que não creio. E serei salvo. Só isto salvará todos os homens e há-de transformá-los fisicamente, na geração seguinte; porque, no seu estado físico actual (reflecti nisso muito tempo), o homem não pode, de modo algum, passar sem o seu velho Deus.


Durante três anos procurei o atributo da minha divindade e achei-o: o atributo da minha divindade é a minha vontade, é o livre arbítrio. É com isso que posso manifestar sobre o ponto capital a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova. Porque é terrível! Mato-me para afirmar a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova.





Fiodor Dostoievski, in 'Os Possessos' (discurso do personagem Kirilov)

sábado, 7 de julho de 2007

A Transformação.



1938: é nesse ano no qual eu me encontro.

Wone havia trazido muitos problemas, e seu pai queria deserdar-la. Chegou a vir bater na porta de casa obrigando-me a me casar com sua linda filha desonrada. Como éramos ambos maior de idade, ela era completamente responsável por seus atos... Não devo falar que isso o deixou completamente irado em sua raiva. Wone foi enviada a um convento, aonde realmente se perverteu, saia escondida a noite para fazer o que uma freira normalmente não faria.
Cheguei a vê-la algumas vezes pelas ruas, mas, ela nunca me viu – ou nunca quis ver, não sei. Eu gostava dela, mas com o tempo ela se tornou enjoativa e fresca, e isso não me agradava.

A Grande Segunda Guerra estava chegando, todos sabiam. Os jantares na minha casa estavam se tornando silenciosos e desagradáveis para todos. Minhas irmãs eram novas demais para entender o que estava acontecendo, e meus pais perdiam a paciência muito fácil quando elas perguntavam o que estava acontecendo. Meus pais estavam em crise, porque tinham adquirido o trauma da Primeira Grande Guerra. Tinham medo de tudo voltar novamente, verem que eles amam indo embora, isso era o que mais os deixava aflitos. Bem, eles passaram por maus bocados antigamente, era compreensível. Mas como sempre, preferiam não ter uma opinião ativa com tudo isso; acredito que tinham mais medo do que tudo. O que levou-nos, também, a não ter um caráter nazi-fascista tão forte como a maioria dos alemães do nosso país.
Tudo aconteceu extremamente rápido. E bem, não quero dar uma aula de história, porque realmente não é minha intenção. Alguns anos se passaram, e eu consegui fugir da obrigação de me alistar, tanto porque meu pai não permitiria e eu também não queria, sou um ser extremamente pacifico e abomino guerras ou qualquer outra coisa do tipo.

Então, em 1942, perto de Maio, fui forçado a ir. Logo ocorreria uma batalha... Stalingrado. Bem, como alguns devem saber, ela ocorreu em 28 de junho – lembro-me muito bem dessa data -, isso quer dizer, mais ou menos um mês de preparo para ir aos campos de batalha. Bem, eu sendo jeito que sou, desastrado ao extremo mal conseguia segurar em uma arma, quem dirá apontar e atirar. Alguns soldados eram ótimos guerreiros, outros eram como eu. Meus companheiros eram todos a favor da idéia do Nazismo e defendiam com unhas e dentes o seu adorado líder Hitler. Normalmente eu apenas ouvia durante as reeleições onde eles discutiam sobre as conquistas da Alemanha, e só tomava voz quando o assunto era qualquer outra coisa. Eu tentava fugir dos treinamentos para ficar dormindo no compartimento, e normalmente não conseguia. Esperava ansioso para que tudo aquilo terminasse, e eu pudesse voltar para casa logo. Eu realmente achava que eles vissem tão ruim guerreiro eu era, e me mandassem embora. Estava errado.

Quando o grande dia foi chegando, mas eu ficava calado e entrava em um pânico interno terrivelmente assustador. Era inverno, o nosso exercito não estava preparado para o frio tão rigoroso que fazia. Caminhávamos pelas ruas até nos darmos conta que havia milhares de soldados russos nos aguardando. A cidade parecia deserta, só ouvia os nossos passos pesados ao tocar o chão. Quando vimos todos os soltados russos começando um ataque forte contra nós, no primeiro golpe já fui ao chão. O tiro no estômago foi exato e eu tinha certeza que morreria em poucas horas. O batalhão foi agüentado firme até que não tive mais visão dele por aquela rua. Vários companheiros já estavam mortos no chão juntamente com os russos. Ratos nos rodeavam e comiam as vestimentas de alguns soldados sentindo o cheiro de sangue fresco. Não conseguia me mexer de tanta dor quando ouvi alguns passos misturados com os tiros que se ouvia de longe. Não me lembro mais nada além de ter apagado na hora.


***

Quando dei por mim, estava deitado em um lugar estranho e desconhecido. Não sabia aonde era e como havia chegado ali. Era um celeiro muito velho, apesar de ter achado que era um moinho. Talvez estivesse na Holanda, mas como havia chegado lá tão rápido? Era impossível. Estava deitado por uma palha antiga, muito seca e áspera. Observava tudo, mas sem me levantar... Estava curioso, mas não a esse ponto. Olhava para todos os lados, em busca de alguém, e tentei gritar, mas não conseguia. Percebi que ainda era dia, por que alguns filetes de luz passavam pelas madeiras, fazendo que partículas de poeira dançassem no ar. Soltava longos suspiros até perceber que minha barriga estava totalmente curada e a dor havia passado. Estava começando a ficar realmente assustado. Quando novamente ouvi os passos, lá fora já estava escuro e uma brisa fria envolvia meu corpo.

- Boa Noite, Raphaël.

Sua voz ecoou de uma forma sinistra o que me deixou completamente arrepiado. Eu tentava buscar donde saia àquela voz, mas não via nada além de escuridão. Então o vi parado bem a minha frente. Estava totalmente trajado de preto, pelo pouco que pude identificar. Agachou-se e olhou bem na minha face, então deu uma tapinha de leve nela.

- Sabe o que eu sou, criança?

Olhei-o assustado de novo. Sem saber o que dizer.

- Será igual a mim, a partir... – olhou no seu relógio de pulso -, agora.

Ele me segurou e ergue-me para cima dele, então consegui ver sua face com mais facilidade. Tinha traços egípcios, que vim a identificar mais tarde. Ele tinha um olhar penetrante e macabro. Ele mordeu meu pescoço, logo me jogando no chão e drenando meu sangue por completo. Vi meus braços murchos e os ossos dos dedos apenas encapados com a pele. Estava preste a morrer, quando ele rasgou o próprio pulso e colocou sobre a minha boca para que eu bebesse o sangue viscoso que saia dele. Relutei nos primeiros instantes, mas logo bebi... Bebi tudo que conseguia, até me embriagar. Ele puxou o braço com força, quando me dei conta que estava ardendo por dentro, minha carne se desprendia da pele trazendo a sensação de formigamento.

- Não se assuste, isso é completamente normal, Raphaël. Você irá morrer agora, será muito doloroso – deu uma risada -, mas daqui uns dias não sentirá mais dor. Você tem duas presas, as usara para morder e tirar sangue de suas vitimas, esse é seu alimento. Sim, viverá da vida dos outros humanos.

Ele me olhava com dó mais ao mesmo tempo com frieza.

- Será para sempre um bebedor de sangue como eu, criança. De dia ache um lugar para dormir, o sol pode lhe matar e o fogo também, fuja dele. Sei que gosta de desafios, Raphaël... Supere esse.

Ele se virou uma última vez e soltou uma gargalha, minha expressão era totalmente de dor. Quando ele finalmente foi embora me deixando lá, sozinho. Fiquei lembrando de suas palavras durante todos os dias da minha difícil transformação. Os cheiros me enjoavam, os fluidos saiam de meu corpo em abundância e me davam ânsias, vomitava tudo que estava no meu estômago, que eram apenas mais fluídos do meu corpo. Quando dei por mim, estava no sétimo dia de transformação.


***

Minha primeira caça foi engraçada olhando agora para trás, não tinha controle da minha força e acabei matando os seres humanos no quais me deleitava com uma rapidez incrível quebrando-lhes as vértebras. Era desajeitado ao extremo, e demorei um pouco para pegar uma certa prática. Patético, não?

É um prazer, Desconhecido.

Não irei falar quem eu sou tão rapidamente, e acredito que talvez só quando
eu terminar a obra de Raphaël, possivelmente eu me apresente, mas ainda não é
algo certo.

Raphaël é um personagem originalmente criado por mim mesmo há
uns anos atrás, foi uma história que eu comecei a escrever como hob, mas devo
confessar que me apaixonei por ela de modo inesperado.

Espero que gostem de minha história.

30/07/07

Raphaël Vigèe-Lebrun;

Ertränkt