quinta-feira, 28 de junho de 2007

A Infância e Adolescência



No dia 13 de Novembro de 1918 eu nasci.

O país estava feliz e ao mesmo tempo triste, a Guerra havia sido oficialmente acabada apenas há dois dias. O país politicamente lamenta a imagem que passava para o mundo agora, como perdedores, mas o povo agradecia por não estar mais em conflito.
Meu pai, Max, passava o dia inteiro trabalhando enquanto minha mãe, Elga, o esperava em casa enquanto cuidava carinhosamente de mim. De todos os defeitos que tinha, nenhum deles era equivalente ao seu jeito carinhoso e dedicado. Era uma mulher de porte e tinha uma aparência forte, porem era doce e boa, uma mulher caseira que gostava de cuidar de crianças.
Uma das coisas que tenho mais claro na minha memória é quando meu pai chegava, e eu o esperava ansioso, e então jantávamos os três juntos.
O primeiro prato era sempre uma sopa, havia dias que parecia um caldo sujo, mas não deixava de toma-lo, pois sabia que isso ofenderia a minha mãe. O segundo prato era alguma carne bem temperada e bem assada, pois meu pai odiava a carne sagrando, isso eu me lembro bem, por que houve uma vez que ele teve uma discussão com minha mãe em relação a isso. E o terceiro prato, que era o que eu mais gostava, era a sobremesa. Normalmente era um doce caseiro feito por minha mãe ou uma fruta simplesmente. Não podia comer a tarde, ela nunca deixou, o que fazia meu apetite crescer incrivelmente na hora das refeições... Pensando bem, ela agia certo. O jantar sempre era silêncio, apenas um olhando nos olhos do outro, até quando meu pai falava sobre alguma coisa interessante que havia feito no trabalho no dia ou falava sobre dinheiro com a minha mãe, eu apenas assistia eles conversando enquanto me embriagava com um copo cheio de leite ou água... Apenas aos 12 eles deixavam-me acompanhar-lhes no vinho.
Quando o jantar acabava, o ritual era sempre o mesmo: Levantava-me educadamente como minha mãe havia me ensinado, ia para meu quarto, lia algum livro e acabava dormindo. Eles não precisavam mandar mais, sempre foi assim. Meu pai e minha mãe eram um casal feliz em termos matrimoniais, eles definitivamente se amavam muito. O que me deixava de certo modo muito feliz. Eles sempre foram vistos como um casal feliz com um lindo filho, que era muito bem educado.
Quando tinha oito anos, minha mãe deu a luz a Apolline, que ao contrário de mim nasceu saudável e bem nutrida. Foi a alegria de meus pais ter uma menina em casa. E depois de dois anos, Irma, nasceu. Nossos hábitos mudaram muito, meu pai trabalhava feito um louco enquanto minha mãe cuidava das meninas. E eu, bem, divertia-me jogando bolinhas de vidro com uns amigos a tarde toda, chegando com as calças sempre sujas ou rasgadas, o que fazia minha mãe ficar brava.
Então, quando completei 12 anos, comecei a ajudar meu pai fazendo pequenas entregas pela cidade... Cartas, Telegramas, Documentos. Não era muita coisa, mas era um começo. Gostava de ajuda-lo, pois, de fato, nunca foi estudioso e isso me ocupava... E sempre tinha uma recompensa... Em certos lugares só havia mulheres trabalhando, rs, o que me deixava ocupado à tarde toda enquanto elas me mimavam e falavam pequenas obscenidades em meus ouvidos, o que acho hoje em dia engraçado uma mulher de vinte e poucos anos dando bola para uma criança como eu era naquela época. Tinha cabelos longos que sempre os deixa presos, e uma aparência de menininho ainda, meu nariz ainda era grosso e meu olho não tinha clareado por completo, mas apesar de ser bem alto, parecia pelo menos... Dois anos mais velho. Elas ficavam a passar poucas madeixas que soltavam de meu cabelo caindo pelos meus olhos por causa da correria, passando-os para trás das orelhas, e davam uma risada gostosa e sedutora como se isso não me deixasse vermelho, talvez fosse a intenção delas mesmo: deixar-me vermelho. Quando fui crescendo mais, sabia lidar melhor com elas. Aos meus dezesseis, já sabia retribuir as provocações de modo que as deixassem sem fala. Algumas delas deslumbravam-se ou iluminavam-se ao me ver na porta das lojas quando chegava com algum recado de meu pai – que era um grande e requisitado advogado da cidade -, e logo me puxavam para algum canto usando o pretexto que precisava falar em particular comigo ou dar-me algum recado que se encontrava no escritório nos fundos. Enquanto suas mães abusavam de mim... De certo modo; as suas filhas ficavam rubras ao me ver sem nenhuma fala. Sempre fui um menino bonito, não posso negar, e sempre tive fala mansa. O que as deixavam por assim dizer... Loucas.





Uma das senhoras que mais me recordo foi aquela que atingi minha maturidade. Era uma linda grega, que havia se mudado para Alemanha, há pouco tempo. Era deslumbrante. Chamava-se Demétria, Madame Demétria.
Ela era muito calma e séria, a primeira vez que a vi, ela estava saindo do escritório de meu pai agradecendo-o por serviços prestados.
Quando ela colocou os olhos em mim, abriu um imenso sorriso... Não sabia dizer que tipo sorriso era, pois estava misto de intenções. Então cumprimentei-la e ela saiu pela porta com um rebolado que chamava muito a minha atenção. Perguntei ao meu pai quem era ela... Ele não respondeu. Então, alguns dias se passaram até que eu a visse novamente, por mandato de meu pai.
Era um dia bem gelado, a neve caia pelas ruas enquanto eu caminhava calmamente pelas calçadas. Não era um dia muito agitado no escritório, então entregaria isso e voltaria para casa, estava calmo e ao mesmo tempo ansioso e eufórico.
Quando cheguei em seu prédio, pedi para o porteiro deixar-me entrar. Era um edifício de luxo e de bom nome. Preferi não subir pelo elevador porque além de medo, ela morava no segundo andar. Lembro-me até hoje o número de sua casa... Apartamento N° 12. Quando bati na porta, seu mordomo atendeu e arqueou a sobrancelha, ele deveria ter uns setenta anos para mais. Ele perguntou se poderia me ajudar e mostrei o recado que tinha para entregar. Falou que ele mesmo entregaria a Srta. E eu disse que não, que estava sob minha responsabilidade em um tom bem cínico. Então, deixou-me entrar. Aguardei durante alguns minutos na sala sentando no sofá olhando para o teto distraído, quando ela apareceu na porta apoiando-se nela, com um sorriso radiante. Então disse: “Menino Vigée-Lebrun”, em um sotaque francês bem carregado o que me fez sorrir. Fui ao seu encontro e beija-lhe a mão como uma forma de comprimento. Mostrei-lhe o papel de meu pai e ela pediu para que eu me sentasse sem dar a mínima importância a minha missão. O apartamento era de fato muito luxuoso e aconchegante, os sofás eram grandes e macios. Ela se dirigiu ao bar e perguntou se eu bebia algo... Então respondi o que ela quisesse me oferecer eu aceitaria. Bem, ela deu um sorriso malicioso nessa hora. Observei-a enquanto trazia um copo baixo para mim com alguma bebida destilada e sorridente. Perguntei-lhe porque havia deixado a Grécia e ela simplesmente não respondeu, e estava começando a me irritar todo mundo ignorar minhas perguntas. Ela então me perguntou minha idade.
-16 quase 17... – disse-lhe quase gaguejando.
Ela olhou com um rosto quase materno e começou a fazer perguntar indiscretas, para dizer bem a verdade, eu sempre fui firme com todas as mulheres que me assediavam, mas essa... Essa era diferente. Ela mexia o cabelo de forma diferente, sorria de forma diferente, andava e falava de forma diferente. Então, em poucos minutos já estávamos pelo chão rolando foi dois animaizinhos. Devo confessar que ela me iniciou, verdadeiramente na minha vida de homem. Tudo mudou, não gostava mais de jogos com senhoras ou suas filhas, jogos de olhar e tsc. Quando voltei para casa naquela noite bem mais tarde, meu pai esperava-me na sala com um rosto desinteressado e ao me ver passar pela porta arqueio as sobrancelhas. Então perguntou porque eu havia demorado tanto... Não queria falar para ele o que tinha acontecido... Inventei uma desculpa qualquer de ter ido beber com uns amigos e acabei perdendo a hora. Ele se levantou e me rodeou e disse que eu estava cheirando a bebida mesmo, mas não entendia das roupas amassadas. Estava quase suando quando lhe disse que nos havíamos ido a um bordel também. Ele novamente arqueio as sobrancelhas e deu uma risada. Então foi para o quarto e eu para o meu. A noite foi passada inteiramente desacordada, ficava pensando nela e na mentira que havia contado ao meu pai, que sempre fora um grande amigo.
Então, na manhã seguinte no escritório quando seu primeiro cliente saiu, entrei para conversar com ele sobre o ocorrido. Ele simplesmente continuou a ler o livro que precisava ser relido e disse que já sabia, e que tinha observado o olhar dela ao me ver na primeira vez que esteve aqui. Fiquei pasmo então, dei uma risada. Ele olhou por baixo para mim e disse que não era para me envolver com ela... Além de ser uma mulher bem mais velha, era uma cortesã grega muito conhecia porque havia se mudado para cá para ser amante de um político importante na época. Digamos...Nunca fui de acatar ordens impostas pelos outros, e isso incluía meu pai. Algumas vezes ao mês ia a sua casa lhe fazer uma visita, o que era agradável para ambos. Demétria sempre era carinhosa comigo, e de certo modo... Muito envolvente. Ela tocava piano às vezes e mostrava algumas partituras que escrevera. Foi com ela que ouvi pela primeira vez Sonata ao Luar... O que virou uma obsessão para mim. Ela tinha um jeito de mulher madura e ao mesmo tempo de menina sapeca. Gostava de estar com ela, e não necessariamente estar nela. Eu cheguei a amá-la, mas nada que me machucasse por inteiro se ela partisse. Meu pai sabia dos encontros e cada vez que percebia as marcas de batom – um vermelho escarlate -, me olhava de forma distante e irritada. Até o dia que completei 18 anos, ela voltou para Grécia se despedindo de mim com um longo beijo e uma noite inesquecível, ao amanhecer antes de ir embora sussurrou em meu ouvido que me amava e um dia voltaria. Ela nunca voltou.
Foi morta durante o caminho por um assassino de aluguel, mandado pelos inimigos do político, qual que era amante, vim, a saber, bem mais tarde. A única coisa que me restou dela foi um colar de camafeu preto, que dava três voltas. E ainda o tenho, está guardado na minha propriedade em Berlim, a antiga casa de meus pais. Com o tempo, muitas mulheres apareceram na minha vida. Uma delas foi Wone, uma linda menina de cabelos loiros deslumbrantes. Ela era uma das filhas das madames que citei um pouco acima. Ela fica rubra quando me via passar pela loja de sua mãe atravessando-a até o fundo onde ficava o balcão ou pelas ruas. Ela tinha 16 anos, dois anos mais nova que eu. Sua mãe, sem ela perceber, é claro; certa vez realmente ‘abusou’ de mim, me jogando na parede e eu, apenas deixei, era fogosa e tinha uma magoa... Sabia que seu marido a traia. Mas por uma questão de sigilo ela nunca insinuou nada sobre mim ou meu pai, além de contas nunca era bom atrair um escândalo. Era uma mulher séria e de fato... Muito conhecida pela cidade. Um dia quando cheguei a loja e Sr. Diana não estava, fui direto a Wone, e perguntei-lhe onde estava a sua mãe. Ela corou por inteiro então sorri, na mesma hora me aproximei e disse-lhe como ficava bonita corada... Disse em um tom baixo o suficiente para que apenas nós dois pudéssemos ouvir. Dei uma risada então a convidei para um café. Enquanto caminhávamos, ela olhava para os pés totalmente rubra e soltava um sorriso desconcertado. Sem pensar eu perguntei porque ela gostava tanto de mim se nunca havia me dirigido à palavra, eu poderia ser um canalha, porque não? Não especifiquei que era, todavia... Ela continuava envergonhada agora se agarrando ao seu casaco mais contida, então falou pela primeira vez: “Você parece um anjo, não pode ser um...” completei sua frase dizendo: “canalha”. Fiquei quieto até chegarmos ao café. Pedi um pequeno café bem forte e ela pediu apenas um chá. Ela sorriu radiante quando o chá chegou em forma de agradecimento à garçonete. Então dei uma doce risada. Conversamos sobre artes, música e filosofia. Então quando vi que horas eram... Já estava tarde, bem, naquela época era tarde... E a moça ainda não havia ido para casa. Então novamente levei-a pelo seu trajeto. Quando chegou em casa, inclinou-se para frente e me deu um pequeno beijo selando os lábios e então deu três toques na porta quando sua mãe abriu, estava com uma expressão brava, mas nada fora do seu normal. Mandou Wone entrar e ir para seu quarto e ficou no parapeito da porta me observando, enquanto eu me encostei-se à parede do corredor e lhe sorria. Dei uma risada e me despedi dela com um aceno. Os dias foram passando, e eu me machucando cada vez mais para subir pela primavera de sua varanda para ver Wone, sabendo que sua mãe havia a proibido de me ver. Ela era uma menina doce e linda, gostava de estar com ela, te-la deitada em meu peito enquanto acariciava suas madeixas e ela me contava seus sonhos. Às vezes recitava versos de poetas famosos o que a fazia ficar feliz, e às vezes, apenas ficava em silêncio olhando-a. Nunca houve mais que isso nos primeiros tempos.
Minha família estava se reerguendo e podíamos morar em uma casa maior agora, meu pai tinha muito trabalho e minhas irmãs cresciam felizes. A vida estava sendo recompensadora novamente.
Então, quando finalmente ia possuir Wone, decidimos fugir de Berlim. Planejamos sair em uma sexta-feira à noite. Quando partimos fomos para o interior do país, mas, não se passou uma semana e Wone quis voltar para casa. Isso levou a termino de nosso relacionamento. Ela estava insegura, e eu não era uma pessoa que gostava de ficar sobre as pernas bambas, e ela sabia. Digamos que isso foi o mais perto que cheguei de ter um relacionamento sério com uma mulher. Depois dela, só houve casos e mais casos. E a maioria destrutivos... Para elas.

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É um prazer, Desconhecido.

Não irei falar quem eu sou tão rapidamente, e acredito que talvez só quando
eu terminar a obra de Raphaël, possivelmente eu me apresente, mas ainda não é
algo certo.

Raphaël é um personagem originalmente criado por mim mesmo há
uns anos atrás, foi uma história que eu comecei a escrever como hob, mas devo
confessar que me apaixonei por ela de modo inesperado.

Espero que gostem de minha história.

30/07/07

Raphaël Vigèe-Lebrun;

Ertränkt