sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Journal d'Angelique du Coudray

13 de Maio de 1953


Raphaël aconselhou-me a escrever um diário, ele disse que talvez isso me ajudasse a esquecer todos os fantasmas que andam me perseguindo desde que eu acabei nascendo para escuridão.


Raphaël também me aconselhou a rezar. Ele diz que Deus é o único salvamento para os miseráveis.


15 de Junho de 1953


Hoje Raphaël me deixou sozinha trancada em sua casa. Ele disse que precisava resolver certas coisas. Eu acho que ele tem se encontrado com outro vampiro. Uma noite ele voltou com dois buracos em seu pescoço.


Eu também conheci alguém, ou quase isso... É de vista. Toda noite que saio para caçar eu o vejo vagando pelas ruas de Paris bêbado recitando versos de Shakespeare.

Seu nome é Lafaiete, nasceu aqui mesmo em Paris. Quando ainda era mortal eu o vi andando pelas ruas também, mas como era de dia não estava bêbado. Seu pai trabalhou muito tempo em casa. Ele tem quase 23 anos, e é loiro, igual a mim, seus cabelos são mais longos que o normal, e tem um corpo alto, se não fosse pela expressão de menino arteiro, seria muito parecido com Raphaël. Ele parece ser alguém muito interessante. Eu o vi algumas vezes apenas, mas já estou curiosa em relação a ele. De verdade.


22 de Junho de 1953


Hoje eu briguei com Raphaël. Ele diz que eu sou muito imprudente e inconseqüente, pois toda vez que mato, deixo bem claro que não foi nada humano. Deixo a mostra minha natureza imortal.

Realmente tenho dificuldade em matar, acabo sempre quebrando o pescoço de minhas vítimas antes de beber todo sangue. Uma vez eu quebrei a espinha inteira de um homem, Raphaël ficou extremamente bravo comigo. Tenho medo dele...

Ele também disse que não poderá mais ser visto comigo. Minha família deu por minha falta de modo inesperado, ele disse que talvez mate uma moça com a estrutura corporal parecida com a minha e deforme o rosto e deixe em algum lugar para enganá-los. Ele é um monstro.

Por minha causa também não poderá mais freqüentar a socialite, minhas primas andaram falando que ele fora a última pessoa que eu estive, e estavam procurando que nem gato e rato. Isso irrita muito Raphaël, ele gostava de freqüentar os bailes da burguesia.

Raphaël tem hábitos estranhos para matar. Eram sempre mulheres da vida; tanto prostitutas como mulheres da elite.
Ele nunca chegou a matar um homem, eu acho...

10 de Junho de 1953

Hoje Raphaël trouxe alguém para a casa. Chegaram falando alto, talvez eu ainda esteja sensível a imortalidade, eu ouço coisas que nunca imaginaria ouvir quando humana.

Eles falavam sobre uma mulher. Volúpia Giacomo - Não a identifiquei logo de cara quem ela era. Mais tarde, quando me coloquei para dormir acabei me lembrando que era uma grande madame da elite italiana, era muito conhecida por tocar violino maravilhosamente bem.

Quando voltei a prestar atenção na conversa novamente, descobri o nome daquele bebedor de sangue. Donato. Eles falaram durante muito tempo e nem ao menos prestaram atenção na minha presença, acho. Houve uma hora... Bem, nessa hora, Donato se levantou e acabou se sentando no colo de Raphaël, se beijaram e logo estavam trocando grandes quantidades de sangue.


15 de Junho de 1953


Briguei com Raphaël. Estava enganada, ele tinha me visto espionando.


17 de Junho de 1953


Raphaël estava mais calmo hoje. Então me explicou porque beijara Donato e porque gostava tanto dele.
Explicou também como os imortais encaravam relacionamentos uns com os outros. E como era tão diferente dos mortais. Ele usou uma analogia, acho. Nossos corpos são uma mera casca, o que importa é a alma que há dentro dessa casca. Quando viremos filhos da escuridão, aprendemos a valorizar aquilo que os mortais esquecem. Ele disse que com o passar do tempo... Os seres humanos esqueceram da beleza. E falou uma frase de Da Vinci.
“Tudo que é belo no homem morre, menos a Arte”


08 de Agosto de 1953

Hoje é o aniversário do meu pai, me mata saber que não posso estar com ele agora. Ainda estar preocupado comigo, sua caçula. Raphaël não chegou a deformar o corpo que disse que faria.

Na caça não consegui matar por tristeza.

Pela primeira vez Raphaël foi caloroso comigo, ele me abraçou e disse que tudo daria certo. Ele disse que no último ano da vida do pai dele ele não teve a chance de passar com ele seu aniversário também e isso o feriu muito.
Ele parece ser tão dócil, delicado... Simpático. Mas quer parecer uma coisa fria, sem escrúpulos. Por quê? Ele parece sentir dor. Quem sabe um dia eu descubra o por que.


23 de Agosto de 1953


Hoje enquanto Raphaël foi caçar, entrei em seu quarto. Ele tem um diário também, igual a esse que ando escrevendo. Mas o dele é desde que era mortal.
Eu fiquei com medo quando li. Era extremamente detalhado e ele falava sobre sonhos que ele tivera ultimamente. Um deles era sobre uma masmorra. Ele disse que era um castelo muito antigo, deformado e desproporcional. E eu estava na última masmorra, bem alta, como em um conto de fadas. Disse que havia vários vidrais como as de Notre-Dame iluminado as estreitas passagens de pedra. Quando ele veio me buscar, dei-lhe a mão e fomos descendo pelas escadas... Mas elas eram imensas e iam brincando nas paredes, havia vários degraus pequeninos e teve certa hora que eles acabaram, e nos dois caímos em abismo sem fim.

O outro sonho era quatro portais: Ele chegou a ver dois só, mas tinha certeza que eram quatro, alguém havia dito-lhe no sonho. O primeiro que ele fora era um portal que havia muita água para todos os lados, e nesse portal, você deveria mergulhar dentro dela para ver os corpos daqueles que haviam lhe feito mal. Então, tinha que tomar suas mãos, beijá-las e dizer que as perdoava.
O outro portal que ele chegara a ir era um de areia, havia montes de areia caindo sobre tudo e todos. Então, acordou.


01 de Setembro de 1953

Raphaël voltou hoje de uma viagem para o interior. Ele trouxe consigo alguns documentos de propriedades.
Ele comentou que havia ‘ganho’ de um idoso em um jogo de cartas em uma cidadezinha de Le Puy.


15 de Setembro de 1953

Raphaël decidiu ir para Londres de última hora e novamente me deixou aqui sozinha. Finalmente poderei conhecer Lafaiete.


Raphaël me proibiu de sair da cidade, e disse que caso eu saísse ele saberia e eu pagaria caro.


17 de Setembro de 1953


Hoje me encontrei com Lafaiete, ele sabia o que eu era e pediu para ser igual a mim.
Decidi que vou transformá-lo para assim poder fugir de Raphaël.

Lafaiete disse que o conhece, havia visto matar algumas prostituas pela cidade certa vez.


23 de Setembro de 1953


Transformei Lafaiete hoje.

Raphaël voltou hoje.




Nunca me arrependi tanto na minha vida, como estou arrependida disso.


25 de Setembro de 1953


Raphaël me mandou embora. Disse-me que era uma ingrata e não valia nada. Não entendi o porque de tanta irritação. Ele disse que eu havia sido imprudente.
Disse também que talvez minha cria não sobrevivesse, que eu havia feito o processo errado e agora ele só iria sofrer.

17 de Outubro de 1953


Fui embora.




Adeus Raphaël.

Até nunca mais.

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É um prazer, Desconhecido.

Não irei falar quem eu sou tão rapidamente, e acredito que talvez só quando
eu terminar a obra de Raphaël, possivelmente eu me apresente, mas ainda não é
algo certo.

Raphaël é um personagem originalmente criado por mim mesmo há
uns anos atrás, foi uma história que eu comecei a escrever como hob, mas devo
confessar que me apaixonei por ela de modo inesperado.

Espero que gostem de minha história.

30/07/07

Raphaël Vigèe-Lebrun;

Ertränkt